A nossa conversa com Sara Midões começa com os principais pilares em que assentam o conceito e execução prática de liderança positiva, mas falamos também de muitos outros pontos importantes para que uma empresa consiga efetivamente ajudar à evolução das suas pessoas em termos de liderança, comunicação e relações humanas.
E Sara ainda nos traça “o retrato” da liderança ao nível das empresas em Portugal.
MCG: Em que consiste a liderança empática e positiva? Até que ponto é importante?
Sara Midões: A liderança positiva, enquanto paradigma de liderança, assenta em três grandes pilares. O primeiro deles é a orientação afirmativa, isto é, a orientação para o que funciona, para as soluções, para as oportunidades, alavancando no que corre bem e nas forças individuais, da equipa e da organização.
Depois há também a procura do melhor do Ser Humano, no sentido em que se deseja criar um contexto em que todos possamos agir um contexto em que todos possamos agir e pensar de uma forma que nos eleve, que puxe pelo melhor em nós, e que passa pela adoção e promoção de práticas virtuosas como a generosidade, a empatia, a compaixão, a gratidão e o perdão, entre outras.
Por último, almejar uma performance excecional. Uma performance que seja qualitativamente diferenciadora. Diria que é atingir o objetivo quantitativo com ganhos ao nível individual, da equipa, da organização e da comunidade onde esta se insere.
E estes ganhos vão muito para além de um número que se atinge (que também é importante, claro). Além de lucrativas, as organizações positivas são generosas. Os líderes positivos, além de eficazes, contribuem para o todo.
Os estilos de liderança servidora, autêntica, o modelo prático de Kim Cameron da liderança positiva e a liderança empática, entre outras, são bons exemplos de estilos de liderança positiva.
Revista M: Podemos afirmar que o conceito de liderança “empática” é essencial numa empresa?
Sara Midões: Sim, tendo em conta que existe uma crescente tendência para a necessidade de humanização das organizações, para o aprofundamento da dimensão relacional, para a segurança psicológica em contexto de trabalho, para ambientes de trabalho colaborativos e inovadores… Para todos estes grandes objetivos, a empatia é fundamental.
Num estudo que realizei há cerca de um ano junto de 270 pessoas, a empatia foi a qualidade mais escolhida como necessária nas lideranças, de entre um conjunto de 15 sugeridas.
Cerca de 75% das pessoas elegeram a empatia como sendo fundamental; em segundo surgiu a assertividade, com 45% de escolhas, e em terceiro a orientação para os objetivos, com 44%.
Revista M: Em traços gerais, e sob o seu ponto de vista, como vai a liderança portuguesa nas empresas portuguesas?
Sara Midões: Sou otimista e acho que vai bem! Claro que há espaço para crescer e evoluir, mas não faço das lideranças, nomeadamente as intermédias, os “papões” ou os “maus da fita” das organizações.
Muitas vezes são autodidatas nesta questão da liderança e fazem o seu melhor com o que sabem. Por outro lado, têm desafios mais exigentes e um maior nível de stress quando em comparação com o resto da equipa.
Têm, sem dúvida, de ser apoiados no seu desenvolvimento. E depois há a decisão e a vontade de cada um em evoluir!
Revista M: Com base no seu contacto com os líderes da MCG, que “retrato” tira à liderança praticada na empresa?
Sara Midões: Humanizada, integrando o cuidado com todos enquanto pessoas, assente em valores de honestidade, de justiça, de humildade, mas também de exigência, de rigor e de respeito mútuo. Esta é uma perceção geral das lideranças com quem contactei (a todos os níveis).
Claro que há sempre oportunidade para melhorar! Para todos nós. Acima de tudo, senti uma grande abertura e muita vontade de aprender, ainda para mais relativamente a temas um pouco novos em contexto organizacional, como são a empatia e a comunicação não violenta.
Revista M: Numa frase apenas, diga-nos o que é a “liderança perfeita”…
Sara Midões: Não existe! Só a natureza é perfeita. E mesmo assim… Para mim, liderar é ajudar o todo e cada um individualmente. É contribuir. O foco é sempre o outro. Não que devamos esquecermo-nos de nós, mas agir sempre com base em objetivos maiores do que os nossos próprios.
Grandes exemplos de liderança para mim são o Nelson Mandela ou a Jacinda Arden, ex–primeira ministra da Nova Zelândia. São casos de contribuição, de entrega. Mas serão lideranças perfeitas? Não. Fizeram muitas coisas das quais se arrependem ou fariam de forma diferente.
Mas aprenderam com humildade no processo e, o mais importante, a sua intenção, o seu coração, estava no sítio certo. As pessoas são pessoas. São imperfeitas por natureza, e ainda bem.
Um excelente líder terá dúvidas, colocar-se-á em causa, será vulnerável como todo o ser humano, tudo isto sem nunca perder a sua força.
Sara Midões
Sara Midões trabalhou durante muitos anos em vários cargos executivos ligados à comunicação e ao marketing, em várias empresas, até que decidiu dedicar-se à Community.pt, desenhando e entregando projetos de formação à medida sobre bem-estar, comunicação positiva, empatia e liderança positiva.
É docente e coordenadora executiva do curso de Liderança Positiva e Empática do ISCSP-UL (onde também leciona a disciplina de Psicologia Positiva Aplicada na pós-graduação em Psicologia Positiva) e colabora com a Católica Lisbon – Executive Education.
Desenvolve também programas de mentoria de bem-estar e WLB (Work-Life Balance) para profissionais, além de fazer parte do projeto de Educação Positiva da Interviver com a Cátedra da UNESCO de Educação para a Paz.
Pode ler a entrevista completa na edição nº 09 da Revista M da MCG: